Confiram abaixo a interessante entrevista dada por Queen + Adam Lambert à Team Rock, publicada no sábado dia de 20 de dezembro (adamlambertbrasil .com)
Você não pode substituir Freddie Mercury. Mas as vésperas de uma turnê, Brian May e Roger Taylor, com o príncipe coroado Adam Lambert, explicam porquê eles estão mantendo o legado da banda vivo
“Minhas músicas são como lâminas da BIC”, Freddie Mercury declarou no início do Queen. “Para diversão, para o consumo moderno. Você ouve, gosta e a descarta. Pop descartável.”
Mas 23 anos após sua morte, o álbum mais recente da banda é intitulado
“Queen Forever”. E os dois membros restantes da banda, o guitarrista
Brian May e o baterista Roger Taylor, reconhecem que, para eles, o
título é verdadeiro.
ROGER: “Eu entendo as pessoas que dizem: ‘Não há Queen sem Freddie'” Taylor admite, “porque foi isso que sentimos após sua morte. Nós três dissemos: ‘Esse é o fim da banda.’ Mas a banda não pareceu morrer.” MAY: agora acredita que deixar o Queen morrer com seu vocalista seria uma ideia errada desde o começo. “Mesmo com Roger e eu estando convencidos de que havia acabado, isso não aconteceu.”
A máquina Queen esteve em seu ponto mais alto da última década
durante os últimos 12 meses. “Queen Forever” tem três faixas vocais
esquecidas de Mercury, junto de uma coleção de baladas negligenciadas,
para aumentar o interesse em seu catálogo mais antigo. O Queen foi a
banda do ano no “Classic Rock’s Roll Of Honour”, após uma turnê
triunfante nos EUA, Ásia e Austrália com o novo cantor, Adam Lambert. As
performances extravagantes e sucesso solo de Adam Lambert desde que
participou do American Idol, em 2009 (quando se apresentou pela primeira
vez com o Queen), ajudou a banda a ir mais longe. May e Taylor ainda têm reuniões regulares da banda. Agora eles e
Lambert estão se preparando para voltar à estrada com a primeira turnê
europeia completa do Queen + Adam Lambert, enquanto divulgam o legado do
falecido vocalista com “Queen Forever”. É uma vida estranha que começou
em 1995 com o álbum póstumo com Mercury, “Made In Heaven”, que teve
quatro turnês e o álbum de 2008 com o vocalista Paul Rodgers, “The
Cosmos Rocks”, e não parece que isso irá acabar. As músicas clássicas do
Queen continuam ganhando vida. Mas, como May e Taylor admitem, eles não esperam que o que eles fazem agora se iguale ao que faziam com Mercury.
Brian May, sonolento após uma viagem para Paris, liga para a “Classic
Rock” pelo celular, assim como Lambert. Taylor nos encontra no estúdio
de sua casa. Sua mansão pode ser vista atrás das árvores. Vestido
casualmente, com seu cabelo e barba brancos, o baterista do Queen foi
direto sobre o futuro:
ROGER: - “Eu fiquei feliz por termos três novas faixas para colocar, e trabalhamos muito nelas” ele disse. “Além
da música de Michael Jackson, ‘There Must Be More To Life Than This’,
há outra música que Freddie fez com ele chamada ‘State Of Shock’ (que
depois foi gravada com The Jacksons e Mick Jagger), com muito rock. Mas
só podíamos ter uma faixa com Michael, o que é uma pena. ‘Let Me In Your
Heart’ é uma música típica do Queen. E foi uma ideia do Brian revisitar
‘Love Kills’, que eu acho que funciona. Mas tirando isso, é uma mistura
de nosso material mais lento. Eu não queria a versão dupla do álbum que
fizeram. É trabalho demais, e é triste! Eu também não chamaria isso de
um álbum. É uma compilação com três novas faixas. É mais uma confecção
da gravadora. Não é um álbum verdadeiro do Queen.”
BRIAN: - “Eu entendo o lado de Roger” May ri. “Ele não escreve
baladas, então esse álbum não o representa. Não foi uma ideia nossa. Se
dependesse de mim eu faria um EP com essas novas músicas, mas nós já
havíamos prometido à gravadora que faríamos uma compilação.” May ainda tinha sentimentos fortes ouvindo a voz de Mercury novamente em faixas redescobertas. “Tem sempre um momento” ele disse. “Particularmente
com ‘Let Me In Your Heart Again’. Quando eu ponho a faixa original, soa
espantosamente real, como se tivesse sido gravado naquela manhã. Eu
fiquei emocionado com a forma que Freddie cantava. É como achar
gravações de seus pais depois que eles se foram. E depois vira algo
legal. Antigamente, geralmente era eu que ouvia as músicas que Freddie
havia terminado. É confortante estar de volta naquela situação. É como
se Freddie ainda estivesse aqui.”
Essas três faixas são a última parte ativa de Freddie Mercury na história do Queen?
MAY: “De certa forma ele sempre está ativo, não importa o que estejamos fazendo”, May acredita, “porque
acho que não conseguimos fazer nada sem Freddie ser parte disso. Nós
estivemos em turnê nos EUA com Adam Lambert, e Freddie estava lá, por
causa da letra, e das performances originais que usamos como modelo. Mas
há muito mais, porque usamos vídeos. É bom sentir que ele faz parte
disso, sem encher de nostalgia. Eu acho que fazemos isso com cuidado.”
ADAM: “Nunca haverá outro e eu não estou tentando substituí-lo”, explica. “Não
é isso que estou fazendo. Eu estou tentando manter a memória viva e
lembrar ás pessoas de quão fantástico ele era, sem imitá-lo. Eu estou
tentando compartilhar com a audiência o quanto ele me inspirou.”
A energia jovial de Lambert, o grande alcance vocal e fama nos EUA
revitalizaram a banda no país durante o último ano. As músicas clássicas
do Queen já ganharam uma nova audiência em programas de TV e filmes, de
“Bohemiam Rhapsody” em Quanto Mais Idiota Melhor até “Somebody To Love”
em Glee.
MAY:“É grande lá agora”concorda. “O que mudou é que
Adam é a primeira pessoa que encontramos que consegue fazer todo o
catálogo do Queen sem piscar. Ele tem o alcance e afinidade com a
extravagância que Freddie tinha. Você vê nos shows as pessoas sendo um
pouco mais reservadas no início: ‘Por que estamos vendo esse cara do
American Idol cantando músicas do Queen?’ Depois de três músicas eles
entendem. Eles riem, choram e é um show do Queen da mesma forma que era
antes. Eu não acho que Freddie se importaria que eu diga isso, ou que eu
esteja sendo desleal a Freddie. Adam tem o instrumento e consegue fazer
isso.”
Muitos cantores tentaram o lugar de Mercury desde sua morte, desde o
roqueiro Paul Rodgers até a popstar Jessie J na cerimônia final das
Olimpíadas. Mas Lambert tem um vantagem: ele é extravagantemente gay,
como Mercury. Isso parece dar às suas performances uma conexão autêntica
com Mercury, que faltava no Queen desde 1991.
ROGER: “Tudo o que sei é que sua teatralidade e extravagância funciona com nossa música” Taylor diz. “Ele
é bem teatral e exagerado, é grande. Ele não esconde sua teatralidade, e
ele vai para o palco como um homem abertamente gay – não há nenhuma
pretensão. Então sim, talvez!”
MAY: “É um questionamento engraçado”,“Mas às vezes
eu me pego perguntando isso também, porque muitos dos grandes músicos
eram gays. Eu me pergunto se há alguma mágica nisso. Há um certo
mistério nisso. Mas nós estamos familiarizados com isso, e sexualidade
nunca foi um problema. Mesmo as pessoas pensando em Adam como sendo do
American Idol, ele tem um passado no teatro. Essa é outra conexão,
porque Freddie também tinha muito disso.”
ADAM:“Eu acho que isso ajuda algumas pessoas a me entenderem melhor” Lambert diz. “Talvez
isso ajude a entender meu senso de humor, ou a me colocar em uma
categoria similar à de Freddie. Então sim, isso pode dar uma certa
permissão para gostar de mim, porque estou sendo comparado a alguém que
eles sabem que é aceito. Eu não acho que ser gay é um tabu agora. As
pessoas superaram isso.”
Esse certamente não era o caso quando Mercury mudou sua imagem com o
álbum dos anos 80, “The Game”: de um roqueiro de cabelo comprido do
início da banda para um look mais gay com um bigode. “The Game” foi o
último álbum hit nos EUA.
ROGER:“Nos EUA, a sexualidade de Freddie nos prejudicou” Taylor admite. “Nós víamos as pessoas jogando lâminas de barbear no palco quando o bigode apareceu, o que era um look gay icônico na época. E [em 1984] a MTV não passava ‘I Want To Break Free’ quando estávamos todos de drag. Era uma estação bem conservadora na época.”
MAY: diz que Lambert é “um presente de Deus”, e a única razão pela qual o Queen está tocando agora. Taylor descreve sua voz como “uma em um bilhão”.
Seu respeito mútuo aumentou o panorama de novas músicas do Queen. Mas
depois de “The Cosmos Rocks”, o par veterano do Queen está sendo
cauteloso em relação a essa rota. Quando eu falei com Paul Rodgers em
2014, ele deixou claro sua infelicidade com a experiência. “Politicamente, Brian e Roger decidiam o que seria feito”, ele lembra. “Nós fizemos alguns ótimos shows, e Roger tinha algumas músicas, mas poderia ter sido melhor.”
ROGER: É acho que sim” Taylor considera. “Eu tive muito a ver com aquele álbum. Foi feito nessa sala. Tinha um material ótimo. Eu acho que é porque Paul é mais blues e soul
– e um dos meus cantores favoritos – mas ele não era o vocalista
perfeito para nós. Eu senti que o álbum foi mal promovido pela EMI, que
estava falindo na época. Nós fizemos uma turnê na Europa, e eu entrava
nas lojas de músicas e o álbum não estava lá. E eu lembro de ficar
furioso e pensar: ‘Por que fizemos isso?'”
“Isso certamente nos fez pensar duas vezes sobre fazer um álbum do Queen com outro cantor”, ele acrescenta. “Há
uma certa resistência do público sobre essa ideia, porque Freddie era
muito ligado a nós. Quando você perde a marca, as pessoas perdem o
interesse. É por isso que álbuns solo do Freddie, ou do Mick Jagger, ou
meus, não baterão nenhum recorde de vendas. As pessoas querem a marca. É
uma palavra horrível mas adequada.” ---MAY:“Eu não sou contra gravarmos novamente,”diz. “Mas
nós não discutimos isso. E nós passamos muito tempo fazendo aquele álbum
com Paul Rodgers, passando por muita dor, e eu não acho que o público
ficou sabendo disso. Então eu seria cauteloso sobre fazer um grupo
chamado Queen sem Freddie. Talvez devêssemos fazer outra coisa com Adam.
Talvez devêssemos fazer parte de seu futuro.”
Lambert, com um terceiro álbum solo para terminar e uma carreira de
sucesso solo para continuar, assim que a turnê acabar, também reconhece a
falta de compromisso. “Eu estou honrado de trabalhar com o grupo”, ele diz. “É
um compromisso limitado, único na vida. Ir para o estúdio e criar novas
músicas nos chamando de Queen é uma situação diferente.” -- ROGER:“Vou dizer uma coisa. Se tivermos o material, eu não faria com
nenhum outro cantor que não Adam, porque ele é perfeito com o Queen. Ele
tem o alcance e o talento. Eu não sou contra dar uma chance à isso.” diz .
Taylor sabe, entretanto, que ele e May nunca terão um colaborador tão
forte quanto Mercury novamente. Com o baixista John Deacon aposentado
desde 1997, a dupla é o Queen, e com quem eles trabalham ou com quem se juntam não é. --ROGER: “Você está certo”.“Com Freddie éramos
contemporâneos. Não acho que ninguém que entre em nosso grupo será
assim. Mas nós respeitamos as ideias de Adam. Ele é incrivelmente
musical, e nós levamos a sério tudo o que ele diz.”
A perda de Mercury enfraquece qualquer material novo do Queen no futuro?
ROGER:“Bom, nós perdemos o melhor e o mais primordial compositor”. “Nós
todos escrevemos músicas, mas Freddie nasceu para isso. Ele nos
surpreendia constantemente. Eu ainda não sei de onde algumas de suas
letras vieram, elas são inteligentes, quase como Cole Porter. Eu nunca
vi Freddie lendo um livro, mas ele sabia de muitas informações. É por
isso que Brian e eu não fizemos novas músicas desde sua morte, porque
sabemos que não estaríamos trazendo todo o potencial. Eu suspeito de que
Adam consegue tapar um pouco desse buraco, mas nós não escrevemos nada
com ele ainda. Nós nem chegamos a discutir isso entre nós.” Taylor acredita que ele e May perderam um pouco da tensão criativa que havia nos anos 70 e 80. “Não é a mesma coisa de quando éramos quatro. Sabíamos quais eram nossos pontos fortes.” Seus extremos musicais também se foram. “Freddie dizia: ‘Muito longe não é longe o suficiente!'.
MAY: "Nós
gostaríamos de expandir as barreiras do Queen, se pudéssemos. Mas não
acho que faremos isso agora. Somos bons no que fazemos. Somos
prisioneiros do material que fizemos, eu suponho. E não é uma prisão
ruim.” - “Nós não gravamos juntos há muito tempo, não sei como seria agora”, May diz. “O
Queen lutava, às vezes destrutivamente, e com isso veio uma grande
força. Roger e eu ainda discordamos sobre quase tudo no universo, mas
acho que amadurecemos. Nós sabemos a hora de parar, apesar de ser
difícil para os dois. Somos como irmãos. Nós temos discussões via email,
e a coisa fica feia lá, geralmente sobre música, o que eu acho que
significa que ainda nos importamos.”
Enquanto May e Taylor se preparam para outra turnê, décadas
após eles acharem que acabou, eles veêm algum fim natural para o Queen?
Ou a música que eles fizeram quando jovens se tornou um trabalho para a
vida toda?
ROGER: “Ah, definitivamente”, Taylor diz. “Chega um ponto em
que você pensa: ‘Não pense no que vem depois, porque é isso que você faz
– é isso que você é.’ Nós somos intrinsecamente ligados a essa música. E
eu amo participar da banda. Enquanto estivermos aptos, eu não vejo
motivos para pararmos.”
MAY: “Durante a primeira metade do Queen”,nós
pensávamos ‘Eu estou fazendo isso agora, mas o resto da minha vida pode
ser diferente.’ Mas foi isso que fiz com a minha vida. Eu fui um
artista, guitarrista, compositor, produtor… e eu estou orgulhoso disso.”
“Eu também virei um ser humano mais balanceado em relação a
quando éramos estrelas do rock em turnê durante nove meses do ano e
gravando por três”, ele acrescenta. “Eu deixei mais coisas
entrarem na minha vida. Agora eu trabalho defendendo animais, e com
astronomia e estereoscopia. Mas quando o Queen chama, tudo vai para o
segundo plano. - “Eu acho que isso ainda funciona não porque precisamos fazer
isso, mas por termos o desejo de fazer grandes coisas. Isso nunca foi
embora. Como quando tocamos no telhado do Palácio de Buckingham [para o Jubileu de ouro da Rainha 2002]. Freddie não estava lá, é claro, mas isso fez
parte do mesmo desejo de fazer coisas fabulosas acontecerem. E nós não
conseguiríamos fazer isso com Adam se isso não nos animasse.”
ROGER: “Brian está envolvido em tantas coisas, e ele protege todo tipo de animal com pelos; nada para os insetos por enquanto”, Taylor ri. “E
eu amo andar de barco, dar alguns tiros, onde eu tenho vários outros
amigos. Então, de qualquer maneira, minha agenda está cheia. Mas é para
ter aquela segurança, para não ser inútil. Mas para tocar você precisa
de um grande vocalista. E você precisa de uma arena lotada. Se não,
esqueça. Se sentíssemos que estamos lutando e as pessoas estão nos
largando, eu não faria isso. Eu odiaria que a banda fracassasse. Esse
seria o fim, não seria?
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