07/11/15 | Resenha Album Jazz - Queen 1978 - Por Neimar Secco - (Whisplash.com )
Fim da década de 1970: as grandes bandas do rock na época estavam ou em recesso, ou em um período de criatividade em baixa. Deep Purple inativo, Led Zeppelin, lançando seu último e mais fraco álbum de inéditas (In Through The Outdoor), Black Sabbath com Never Say Die também se despedindo da sua formação clássica, com Ozzy Osbourne nos vocais, Pink Floyd sem nenhum álbum desde 1975 e até o movimento punk já tendo passado pelo seu auge. Nesse cenário, quem dava as cartas no cenário roqueiro era o QUEEN.
Não era à toa e nem por um rompante de convencimento e deslumbre que em 1977, Freddie Mercury cantava com toda a força “We are the champions of the world”. “We Are The Champions” era sim uma declaração pé no chão de uma banda que ano a ano, álbum após álbum, vinha ascendendo ao topo. A partir de A NIGHT AT THE OPERA com o clássico maior da banda, “Bohemian Rhapsody” (que aliás completou 40 anos de seu lançamento um dia antes de eu estar escrevendo essa resenha) o QUEEN provava a que veio. Quatro ótimos músicos, liderados pelo carisma do frontman (vocalista e tecladista) Freddie Mercury. Os demais músicos da banda (Brian May – guitarra e vocais, Roger Taylor – bateria, percussão e vocais e John Deacon – contrabaixo), apesar de injustamente não figurarem com frequência em listas de melhores músicos, tinham entre si um entrosamento excepcional.
JAZZ foi lançado no final de 1978. Diga-se de passagem, não se sabe por que a banda deu esse título ao álbum. Por ex, SCHOOL’S OUT de Alice Cooper tem passagens jazzísticas, como em “Blue Turk”, mas JAZZ não tem. Talvez seja uma referência aos diferentes estilos musicais que permeiam o álbum. “Mustapha”, a faixa de abertura começa com Freddie Mercury bradndo: “Ibrahim, Ibrahim, Ibrahim, Ala Ala, Ala, I pray for you”. Uma faixa em ritmo arabesco que se transforma em um potente hard rock e é um dos destaques do álbum, que aliás, não produziu nenhum clássico tão grande quanto “Bohemian Rhapsody”, “Somebody To Love”, “We Will Rock You” ou “We Are The Champions” só para citar os exemplos dos três álbuns imediatamente anteriores a JAZZ.
O famoso poster promocional foi barrado por algumas redes de lojas nos EUA, o que forçou alguns fãs a comprarem edições importadas de JAZZ nos EUA
Mas isso em nada desmerece o conjunto da obra.
O ÁLBUM FAIXA A FAIXA....
“Fat Bottomed Girls”, por Brian May é ótima faixa em que o guitarrista e Mercury fazem um dueto magistral entre a guitarra rítmica de May e os vocais dele mesmo (como backing) e os de Mercury enaltecendo a beleza das garotas que (no meio da música mais escrota que se faz no Brasil atualmente) seriam chamadas de popozudas. Mas não se deixe levar pela comparação com o vocábulo nacional. Trata-se de uma boa música.
Em seguida vem a balada que, inexplicavelmente, foi hit em poucos países: EUA, Nova Zelândia, Brasil, Rússia e Canada: “Jealousy”. Trata-se de Mercury dirigindo-se ao ciúme (jealousy) como se fosse alguém com quem ele dialoga e em seguida trata em terceira pessoa, um vilão que o faz perder amores e entrar em conflito consigo mesmo. Uma balada sensível, reflexiva e bela.
QUEEN live em 1978 Jazz Tour |
Ah, mas depois desse momento de seriedade, chegamos a “Bicycle Race”, um verdadeiro clássico. As diversas passagens rítmicas “em movimentos de rotação” e as paradas e retomadas da melodia fazem dessa canção um momento especial do álbum.
“If You Can’t Beat Them” e “Let Me Entertain You” retomam uma levada mais puramente rock’n’roll do álbum. A segunda pelo próprio título e pelo refrão parece ter sido feita para os shows. Seu refrão forte e sua letra exibicionista em que Freddie Mercury escancara sua sexualidade e diz que lhes dará (à plateia) louca performance, direitos de divórcio e uma tour de force é emblemático da personalidade de Mercury.
A segunda metade do álbum começa com “Dead On Time”, uma música em que os riffs velozes de May são o maior destaque. “In Only Seven Days” é uma balada quase acústica, “teen” e singela de Deacon em que Mercury descreve a felicidade e a tristeza de um amor de verão (ou nesse caso de uma semana).
“Dreamer’s Ball” um blues, homenagem de May a Elvis Presley, o rei do rock, falecido no ano anterior.
“Fun It” funk de Roger Taylor no qual ele divide os vocais com Mercury e pode ser considerada precursora do grande hit “Another One Bites The Dust”, do álbum THE GAME, lançado em 1980, embora esta última seja uma composição de John Deacon.
“Fun It” funk de Roger Taylor no qual ele divide os vocais com Mercury e pode ser considerada precursora do grande hit “Another One Bites The Dust”, do álbum THE GAME, lançado em 1980, embora esta última seja uma composição de John Deacon.
Um novo momento introspectivo, a balada “Leaving Home Ain’t Easy”, composta e cantada por May, narra os momentos de angústia e dúvidas de uma separação conjugal.
O clima e o ritmo mudam totalmente com “Don’t Stop Me Now” principal destaque do álbum e o maior hit. Música veloz, cheia de energia. Mercury “despeja” toda sua vitalidade e disposição por estar se divertindo e não querer parar. “Don’t Stop” foi usada na comédia de horror ‘Todo Mundo Quase Morto” (Shaun Of The Dead) e também eleita na pesquisa da BBC, melhor música para se ouvir dirigindo (na estrada).
O ábum fecha com “More Of That Jazz”, mais uma cantada por Roger Taylor com seu vocal “rasgado” e marcante. Nela Taylor faz críticas sociais e ao modo como o rock, na visão dele é desrespeitado. Essa música, em que Taylor toca quase todos os instrumentos e “abusa” de sua excelente qualidade vocal termina com trechos curtos de faixas do álbum: “Dead On Time", "Bicycle Race", "Mustapha", "If You Can't Beat Them", "Fun It" e "Fat Bottomed Girls".
JAZZ pode não ser o trabalho mais brilhante do QUEEN, mas certamente tem muita força e consistência, bem como faixas com momentos instrumentais e vocais marcantes. Vale a pena ser conhecido e apreciado por fãs não só da banda como amantes do rock em geral.
NOTAS:
Produced by QUEEN and Roy Thomas Baker
Freddie Mercury: lead and backing vocals, piano, bicycle bells on "Bicycle Race"
Brian May: electric and acoustic guitars, backing vocals, piano, co-lead vocals on "Fat Bottomed Girls" and lead vocals on "Leaving Home Ain't Easy", bicycle bells on "Bicycle Race"
Roger Taylor: drums, percussion, backing vocals, electric guitar and bass guitar on "Fun It" and "More of That Jazz", lead vocals on "Fun It" and "More of That Jazz", bicycle bells on "Bicycle Race"
John Deacon: bass guitar, electric and acoustic guitar on "In Only Seven Days", bicycle bells on "Bicycle Race"
Sound engineers:
Geoff Workman and John Etchells
Faixas:
01 Mustapha 3:00
02 Fat Bottomed Girls 4:16
03 Jealousy 3:14
04 Bicycle Race 3:01
05 If You Can’t Beat Them 4:16
06 Let Me Entertain You 3:02
07 Dead on Time 3:23
08 In Only Seven Days 2:28
09 Dreamer’s Ball 3:30
10 Fun It 3:29
11 Leaving Home Ain’t Easy 3:15
12 Don’t Stop Me Now 3:29
13 More of That Jazz 4:19
Em 2011 foi lançada uma versão em CD remasterizado com um EP bônus contendo uma versão apenas instrumental de Bicycle Race, a versão single de Fat Bottomed Girls, uma versão alternativa de Don’t Stop Me Now, uma ao vivo de Let Me Entertain You e uma tomada acústica de Dreamer’s Ball
O álbum foi lançado contendo um pôster com dezenas de garotas nuas antes da largada de uma corrida de bicicletas. O evento aliás foi promovido pela banda para o lançamento do single duplo que continha no lado A Bicycle Race e Fat Bottomed Girls.
Num documentario da BBC, o Roger diz que o Jazz foi um album que eles "deixaram a desejar".. sei la, eu acho muito bom... In only seven days é extraordinaria. Pena que nunca tocaram ao vivo
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