ão há meio termo, para quem tem circulado por Londres nestes dias, a música pode ser uma dádiva ou uma praga. Em todas as praças esportivas, espectadores e transeuntes são fuzilados por pérolas da produção musical britânica ou sucessos da estatura de uma “Macarena”. Até aí, problema nenhum. O que pega é a repetição.
Vizinho da arena de vôlei de praia, o primeiro-ministro David Cameron é um dos que mais sofre. Durante uma partida qualquer, o DJ responsável por animar a plateia dispara pelo menos umas cinco vezes o hit “We Will Rock You”, do Queen. Se continuar nesse ritmo até as finais, o primeiro-ministro diz que a Meryl Streep já pode ir se preparando para interpretá-lo no ano que vem.
Todas as vitórias britânicas são embaladas por “Heroes”, pop clássico, épico e dramático composto e interpretado por David Bowie. A combinação é muito feliz, principalmente para quem ignora o fato de a letra versar sobre a dificuldade de levar adiante um relacionamento. Mas talvez essa seja a mensagem subliminar da escolha: sem uma dose de heroísmo, não se chega ao final da maratona amorosa.
A trilha sonora dos Jogos tem feito eu e meus colegas de ISTOÉ exercitar nosso lado mãe Dinah e imaginar o que será tocado durante a Olimpíada do Rio em 2016. Chegamos a alguns palpites e soluções. Vamos a eles.
Todos os atletas brasileiros desclassificados ao longo da competição deixariam a arena ao som de “Aquele Abraço”, do Gilberto Gil. Os jogadores de esportes disputados por duplas, como vôlei de praia, badminton e tênis entrariam na quadra ao som de “Dois pra Lá, Dois pra Cá”, de João Bosco e Aldir Blanc. Atletas femininas pegas no antidoping seriam banidas dos Jogos ouvindo aquele trecho do Wando que diz: “Moça, sei que já não és pura”.
Caso surja uma surpresa como a pequenina judoca de ouro Sarah Menezes, ela deve ser saudada no pódio ao som de “Menina Veneno”, do velho e bom Ritchie. Se Cesar Cielo e Robert Scheidt repetirem o desempenho londrino e ficarem com um frustrante bronze, nada melhor do que serem recepcionados com a plateia cantando: “Está na hora de essa gente bronzeada mostrar seu valor”. A música “Nem Ouro, nem Prata”, do Ruy Maurity também se encaixa perfeitamente aqui.
Os brasileiros que chegarem ao topo do pódio terão direito a receber a medalha de ouro embalados por “Emoções”, do rei Roberto Carlos. “Sossego”, do Tim Maia, fica reservada para aqueles atletas que não se prepararam com o devido afinco.
Pronto, essas são as nossas humildes sugestões. Há um tom de súplica nelas. Esta lista é a nossa tentativa desesperada para evitar que os Jogos do Rio se transformem numa tortura sonora capitaneada por Ivetes, Claudias, Luans, Telós, Tchus e Tchás.
Todavia, se o desempenho do Time Brasil em 2016 for parecido com o que tem sido até agora em Londres, nós devemos copiar outra ideia da Olimpíada britânica: pôr David Bowie para tocar. Só que, em vez de “Heroes”, a música mais pertinente é “Absolute Beginners”.
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